Thursday, October 07, 2010

Esperança nos olhos de uma criança




Dia 31 de agosto sai de Auroville com destino a Europa. Devo admitir que uma forte sensação de felicidade e reencontro tomaram conta de mim. Apesar de já ter estado por lá muitas vezes, dessa vez o sabor parecia diferente. Meu roteiro: primeiro Madrid, depois Inglaterra.

Londres. Somente um dia, para trocar de avião. Mas como queria viajar barato, comprei um vôo que saia de outro aeroporto. Lição numero um: o barato sai caro. Além de ter que esperar doze horas no aeroporto, só o ônibus me custou 24 pounds, quase o mesmo que a passagem de avião... fora os gastos com comida e entretenimento para essas horas, o que em pounds faz com que qualquer Burger King seja quase como um restaurante 5 estrelas na Índia. Ah claro, esqueci de mencionar que, vindo da Índia, tudo parece absurdamente caro.

Chegar em Londres foi como chegar em outro planeta. Começando pelo cheiro, pelas cores, pela organização. O mais chocante: o número de pessoas nos lugares. Tudo me parecia tão vazio e silencioso. Realmente, morar na Índia é como morar no formigueiro das formigas mais alucinadas e agitadas do mundo!! Só conseguia visualizar as motos, os rickshaws, as vacas, as cabras, os carros, os ônibus, as pessoas, os templos, as bicicletas, as mesquitas, os carrinhos de comida...

Insight: viajando apenas 11 horas de avião e gastando menos de 5 horas na rua, foi tão nítido para mim que é impossível querer estabelecer um mundo igual. Não só impossível, como burro. É tão mágica e inspiradora essa diferença, essa diversidade. Globalizar para trazer desenvolvimento sim, globalizar para trazer padronização não!

Outra diferença que me chamou a atenção: a vida nos olhos das pessoas. Não sei se pela crise ou porque, mas senti uma falta de luz nos olhos por aqui. Quem esteve na Índia sabe do que estou falando. Os indianos tem esse brilho no olhar, essa vida, quase uma pequena janela da alma. Para mim nada melhor que representar a Índia pela flor de Lótus, que é tão linda mesmo crescendo no lodo, na sujeira...

Mas devo admitir que também amei a sensação de ser olhada normalmente e não como um ET. De não ter ninguém apontando ou olhando para mim fixamente na cara de pau sem nenhuma preocupação em estar incomodando. Fiquei no aeroporto por mais de 10 horas e ninguém veio falar comigo, coisa que nunca aconteceria na Índia! Ah desculpa, veio sim... um indiano!!!!

Depois das mais de 10 horas de espera e duas de vôo, finalmente: Madrid. Estar por lá de novo, depois de 2 anos e meio. A sensação de pisar no aeroporto foi maravilhosa, sair para a rua então nem se fala. O verão em Madrid é lindo. Os espanhóis? As mesmas caras fechadas de sempre. As ruas? Verdes como nunca! Os primeiros reencontros com as amigas e amigos foram como se eu nunca tivesse ido. Amizades verdadeiras são assim. Também fiz novos amigos, visitei família e estudei um pouquinho :-)

Tudo isso em apenas duas semanas. Parece que por alguma razão meus olhos foram trocados por olhos de criança, com essa curiosidade e descoberta em cada passo. Estou feliz, simplesmente feliz! Uma sensação boa de que esse mês pela Europa foi com certeza, transformador... mas... não é a vida por si só transformadora se assim assumimos nossa maneira de ver e vivenciar nossas experiências, sejam elas qual forem?

No próximo texto falarei da experiência na Inglaterra, aguardem!! :-)


1 comment:

Yosy Vásquez de Jara said...

Mary...como sempre....a escrita no teu blog é de mais...Obrigada por compartilhar e permitir olhar desde tua janela ou seja, desde os teus olhos.... O que é a India para você o Brasil é para mim... estou escrevendo um blog sobre as minhas experiências em são Paulo engraçado né? Bjs, Yosy